Suspense,
mistério, romance, drama psicológico e até uma pitada de História. Para quem
gosta desses temperos em suas leituras, a combinação então, será de fato
fantástica.
Tudo gira em
torno de um assassinato, cuja vítima encontra-se em uma casa para onde são
levados dois amigos, sendo um deles médico e sendo esse o motivo de sua
presença no local do crime. A partir daí a história começa a se desenvolver de
uma forma que aparenta o tecer de uma teia.
Através das
cartas dos supostos envolvidos ao jornal “Diário de Notícias”, toda a história
é contada e seus pedaços preenchidos sob a visão de quem participou da
trama.
Basicamente
a obra se divide em três partes. Na primeira, apresenta-se o crime sobre o qual
paira o mistério de sua autoria. Na segunda parte temos as aventuras e
desventuras de um grupo de viajantes (que mesmo tendo uma narrativa com
contornos mais românticos, gênero do qual eu não sou muito fã, apresenta uma
importância enorme para que possamos entender o fechamento da trama). Por fim,
na terceira parte, começamos a dar conta de depoimentos e elucidações que nos
levam a saber o porquê do ocorrido e como o fato se sucedeu.
O livro é
gostoso de ler, a história é intrigante, a gente sempre fica esperando o que
virá depois e eu gosto muito disso quando leio uma obra; porém, alguns
personagens (que se identificam apenas com suas iniciais) e as datas (pois
tenho muito problema com elas) deixaram alguns trechos da obra um pouco
confusos para mim, mas é uma história muito boa e que vale muito a pena ser
lida. Meu primeiro Eça de Queirós... E eu recomendo!!!
Curiosidades:
- O livro foi adaptado para o cinema no ano de 2007 pelo diretor Jorge Paixão
da Costa.
- Na edição que eu li, logo no início, há uma carta dos autores Eça de Queirós
e Ramalho Ortigão ao editor do livro, cuja terceira edição estava sendo
lançada. Nessa carta os autores se referem ao seu romance da seguinte forma:
“... ele é execrável; e nenhum de nós, quer como romancista, quer como critico,
deseja, nem ao seu pior inimigo, um livro igual. Porque nele há um pouco de
tudo quanto um romancista lhe não deveria pôr e quase tudo quanto um crítico
lhe deveria tirar.” Isso, pelo fato de ser bem diferente do estilo que seguiram
e desenvolveram com o tempo.
No entanto,
o romance caiu no gosto da população, tendo muita gente lido os fatos no
“Diário de Notícias” e mesmo assim adquirido a obra quando lançada; obra esta
que sobreviveu até hoje encantando a nossa curiosidade e matando a nossa fome
de leitores de forma muito competente (minha opinião).
Trechos do livro que me tocaram:
Não consegui lembrar, após a leitura, de todos os trechos que mexeram comigo,
mas consegui salvar na memória três deles, que transcrevo abaixo.
“Há pensamentos que não vivem senão no silêncio e na sombra, pensamentos que
o dia desvanece e apaga; há outros que só surgem ao clarão do sol.”
“Mil coisas choravam dentro em mim. Sofria, sobretudo, o orgulho. Era
impossível fazer com ele uma conciliação. Reage sempre, protesta ainda. Parece
vencido, resignado, mas de repente ergue-se dentro de mim, esbofeteia-me o
coração.”
“... Os olhos daqueles que te amam ainda não choram por ti. Estão fechados
talvez pelo sono tranquilo e doce, atravessado em sonhos pela tua imagem
querida; estão, porventura, fitos no conhecido caminho por onde esperam
sentir-te chegar, conhecer-te o passo retardado, ouvir-te a voz cantarolando a
última valsa que o baile te deixou no ouvido, ver-te finalmente aparecer,
descuidado, risonho e feliz. Coitados!... Os passos daquele que ainda hoje
talvez se despediu de vós contando voltar a encontrar-vos poucas horas depois,
não tornarão a medir o caminho da casa em que o esperam; a sua voz não
responderá mais à voz que o chame; os seus olhos nunca mais se embeberão nos
olhos que o fitavam; os seus lábios não voltarão outra vez a aproximar-se dos
lábios que se colavam nos dele! Eu não choro a tua memória, porque não te
conheço, porque nunca nos encontramos, porque não sei quem és. Mas não quero
insultar a dor que adeja sobre a tua morte, deixando-me dormir na mesma casa em
que jazes insepulto, enquanto alguém te espera vivo no mundo.” (Relato do Sr.
F. retratando a tristeza do pensamento que lhe impôs a presença do cadáver
debaixo do mesmo teto em que era obrigado a permanecer). Palavras fortes que
nos levam a pensar na crueldade da morte, na agonia de imaginar uma pessoa
querida lhe sendo arrancada sem que nada se possa fazer a respeito, no
desespero de imaginar essa falta de notícias. Pensei na falsa alegria e
esperança de quem espera sem saber e na angustiada solidão de quem pressente o
pior...
Dica: Para quem quiser assistir ao filme após a leitura do livro, pode
encontrá-lo no You Tube (o filme está em
Português de Portugal, mas dá para entender perfeitamente).