As imagens e mitos gregos mais recentes representam Ártemis como uma
virgem assexuada, regente da lua crescente, perambulando pelas florestas
com seu grupo de ninfas, evitando o contato com os homens e matando
aqueles que espiavam sua intimidade. No entanto, esta é apenas uma das
inúmeras identidades assumidas por esta misteriosa Deusa, uma síntese
das energias multifacetadas da essência feminina.
A natureza de Ártemis é complexa e contraditória: ela é virgem, mas
cuida e auxilia parturientes e crianças; é caçadora e ao mesmo tempo
protetora dos animais, é guerreira e rainha das Amazonas, mas também é A
Mãe dos Mil Seios, senhora da fertilidade. Simboliza a dualidade do bem
e do mal, ora aparecendo como uma linda donzela, ora deusa vingativa,
agindo como parteira amorosa ou feroz guerreira, protetora das crianças
sem nunca ter sido mãe, cuidando da vida ou promovendo a morte.
A deusa Ártemis representa mulheres atléticas que apreciam a natureza e os animais.
Aventureira, parece que a bateria dessa deusa nunca vai acabar, pois
energia para um passeio ela sempre possui. Independente, sabe viver só e
sente-se bem assim. É auto-suficiente o que faz com que ela não
seja dependente de um homem para sorrir. As mulheres de Ártemis quando
estão envolvidas em relacionamentos costumam ser companheiras e
incapazes de sufocar seu parceiro com ciúme, elas respeitam a liberdade
dos outros da mesma forma com que elas querem que respeitem as delas.
As mulheres que possuem personalidade semelhante a deusa Ártemis
costumam não se sentir bem em locais apertados e roupas justas.
Apreciam o espaço e o conforto e costumam trocar programas urbanos por
idas a cachoeiras nos fins de semana. São mulheres que após um longo
tempo sem ter contato com a natureza se sentem fracas, com pouca energia
e então, após passar o dia em uma praia, cachoeira, montanha ou fazenda
já se sentem revitalizadas novamente.
Ártemis nasceu com facilidade, mas como seu irmão gêmeo custava a nascer
e Leto sofria dores terríveis, Ártemis a ajudou trazer Apollo ao mundo.
Foi assim que se originaram os nomes de Ártemis como Eileithya e
Partenos, a Parteira amorosa e o título de “Aquela que trazia a luz”. A
ilha mágica - renomeada Delos (“brilhante”) - foi consagrada a Ártemis e
Apollo, sendo que lá nenhum ser humano podia nascer ou morrer.
Quando Ártemis completou três anos, foi apresentada ao seu pai e Zeus
encantado com sua precocidade lhe ofereceu quaisquer presentes que ela
quisesse. Ártemis pediu para jamais precisar casar (e assim permaneceu,
sendo imune aos encantamentos de Afrodite e Eros), ter mais nomes do que
seu irmão, mas ter arco e flechas como ele, poder usar sempre uma
túnica curta para correr à vontade nos bosques, ter como companhia
sessenta ninfas do oceano e trinta dos rios que cuidassem dos seus
animais, reger a Lua e a luz (na sua qualidade de Phoebe, “a luminosa”),
ter o domínio das montanhas e florestas e o direito de fazer sempre suas próprias escolhas.
Ártemis tinha autonomia e independência, liberdade
para agir seguindo seu instinto, jamais se submetendo ao domínio ou
controle masculino.
Para as mulheres que seguem o Caminho da Deusa, Ártemis personifica o
espírito feminino independente, que lhes possibilita estabelecer e
defender seus próprios objetivos e escolhas, agindo com confiança e
determinação, sem precisar da aprovação masculina. Sentindo-se completas
em si e por elas mesmas, o arquétipo de Ártemis reencontrado e
reavivado pelas mulheres modernas, lhes confere a habilidade de se
concentrar naquilo que é importante, sem se perturbar com a competição,
as exigências ou necessidades alheias. O enfoque nos objetivos e a
perseverança facilitam a superação dos desafios e obstáculos,
direcionando a vontade para alcançar o alvo estabelecido.
As metas do movimento feminista podem ser resumidas pelas qualidades de
Ártemis:empreendimento, independência, competência, compaixão (pelos
oprimidos, crianças, mulheres, animais). A área dos interesses abrange
uma gama variada como: defesa social, socorro às mulheres perseguidas,
maltratadas ou abusadas, combate à pornografia e exploração infantil,
punição dos estupros e incestos, o empenho para a divulgação e prática
dos partos naturais com auxilio das parteiras, a conexão, o respeito e a
gratidão permanente perante a natureza, as competições esportivas para
jovens, atividades e preocupações ecológicas, solidariedade, parceria e
irmandade entre as mulheres, o resgate dos valores e cultos lunares.
Os desafios representados pela exacerbação do arquétipo de Ártemis
são: negação da vulnerabilidade própria, indiferença às necessidades
alheias (frieza e crueldade com os homens e animais), hostilidade, raiva
destrutiva, distanciamento emocional, falta de atenção, cuidados ou
compaixão perante os outros, desvalorização das qualidades receptivas,
nutridoras e protetoras femininas. A tarefa para retificar os excessos
ou faltas deste arquétipo consta na identificação dos padrões positivos e
negativos, reconhecendo e eliminando a auto-sabotagem, o alinhamento
com os ciclos lunares e naturais, atividades físicas, interesse pela
natureza, a definição do que precisa renovar, inovar, descartar, começar
ou completar, a valorização da amizade com mulheres.
A sabedoria que Ártemis nos oferece nos dias de hoje é descobrir,
defender e expressar a verdade e o poder pessoal, ter centramento e
enfoque necessários para alcançar objetivos, complementar as polaridades
internas e externas, ampliar os interesses saindo do micro e do
individual para o macro e o global, unir razão e emoção, instinto e
intuição, força e compaixão, rumo para a unificação e a total integração
do ser.